Os carneiros jurados
Certo pastor, revoltado com as
depredações do lobo, reuniu a carneirada e disse:
— Amigos! É chegado o
momento de reagir. Sois uma legião e o lobo é um só. Se vos
reunirdes e resistirdes de pé firme, quem perderá a partida será
ele, e nós nos veremos para sempre libertos da sua cruel voracidade.
Os carneiros aplaudiram-no com
entusiasmo e, erguendo a pata dianteira, juraram resistir.
— Muito bem! — exclamou o
pastor. Resta agora combinarmos o meio prático de resistir. Proponho
o seguinte: quando a fera aparecer, ninguém foge; ao contrário:
firmam-se todos nos pés, retesam os músculos, armam a cabeça,
investem contra ela, encurralam-na, imprensam-na; esmagam-na!
Uma salva de bés selou o
pacto e o dia inteiro não se falou senão na tremenda réplica que
dariam ao lobo.
Ao anoitecer, porém, quando a
carneirada se recolhia ao curral, um berro ecoou de súbito:
— O lobo!...
Não foi preciso mais:
sobreveio o pânico e os heróis jurados fugiram pelos campos a fora,
tontos de pavor.
Fora rebate falso. Não era
lobo; era apenas sombra de lobo!…
Ao carneiro só peças lã.
- Porque só pedir lã aos
carneiros ? - disse Emília. - Podemos também pedir lhes
costeletas. Dos carneiros é só o que interessa Tia Nastácia, as
costeletas…
Dona Benta explicou que o
principal do carneiro não era a carne e sim a lã.
- Carne todos os animais têm
– disse ela – e lã,só o carneiro. É por isso que o autor dessa
história fala em lã, e não em carne. A moralidade da fábula é
que não devemos exigir das criaturas coisas que elas não podem dar.
Se pedimos lã a um carneiro, ele no-la dá muita e excelente. Mas se
pedimos coragem, ah, isso ele não dá nem um pingo.
-Por quê?
- Porque não tem. Não há
bichinho mais tímido, mais sem coragem que o carneiro.
Quando queremos falar de uma
pessoa muito pacífica, dizemos : “ É um carneiro”.
Extraído do livro Fábulas de Monteiro Lobato
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